Referência: Tiago 4.2b-3
INTRODUÇÃO
Hoje quero pregar sobre a
consolação do NÃO de Deus, quando sua resposta negativa às nossas orações é uma
bênção, quando o NÃO de Deus é o nosso livramento e quando a sua resposta
contrária à nossa vontade é o maior gesto da sua misericórdia por nós.
I. OS QUE SE QUEIXAM
SEM RAZÃO
Muitos são aqueles que sendo
hoje tanto mais do que eram, e tendo tanto mais do que tinham, e estando tanto
mais honrados do que estavam, ainda se queixam.
1. ADÃO
Adão antes de Deus o formar não
era nada. Formado, era uma estátua de barro. Recebendo o sopro de Deus, pôs-se
Adão em pé e começou a ser homem. Recebeu tanta honra que Deus lhe deu a
presidência da terra: sobre todos os animais; a presidência do ar: sobre todas
as aves e a presidência do mar: sobre todos os peixes. Parece que não podia ser
mais nem melhor. Contudo, nem Adão nem Eva ficaram satisfeitos. Ainda queriam
mais. E o que queriam? Queriam ser iguais a Deus.
Há tal ambição de subir e tal
desatino de crescer? Anteontem, nada; ontem, barro; hoje, homem; amanhã, Deus?
Quem ontem era barro, não contentará com ser hoje homem, e o primeiro homem?
Quem anteontem era nada, não se contentará com ser hoje tudo, e mandar tudo? Adão
estava descontente, mas sem razão.
2. DAVI
Em 2 Sm 7:8 diz: “Tomei-te da
malhada, de detrás das ovelhas, para que fosses príncipe sobre o meu povo, sobre
Israel”. Não só diz Deus o lugar onde o pôs, como também o lugar de onde o
tirou. Tirou-o das pastagens pedregosas de Belém e o colocou no trono.
Lembre-se do descontente com Deus, onde estava e onde está. Lembre-se de Adão,
do que era e do que se tornou. E logo verá que as nossas queixas não são razoáveis.
Os filhos de Zebedeu pediram
para Jesus um lugar de honra no seu Reino. Enquanto Jesus fala da cruz, eles
falavam da coroa. Enquanto Jesus sentia a dor da morte, eles estavam encantados
com o poder. Jesus lhes diz que eles não sabem o que pedem e não lhes atende o
pedido. Então, eles viram o excesso da sua ambição. Ontem remando a barca e
remendando as redes. Hoje, apóstolos de Jesus; amanhã, desejando ser maiores do
que os outros? Tiago diz: “Pedis e não recebeis, porque pedis mal”.
II. OS QUE PEDEM SEM
SABER
Muitas vezes não sabemos também
o que pedimos. Vejamos alguns exemplos:
1. RAQUEL
Raquel fez uma das mais
importunas e impacientes petições que uma mulher pode fazer ao marido em sua
vida: “Dá-me filhos, senão eu morrerei” (Gn 30:1). Respondeu-lhe Jacó que os
filhos só Deus os dá, e só ele os pode dar. Raquel tinha o amor de Jacó, mas isto
não era o suficiente para ele. Ela queria filhos para continuar vivendo.
Sua petição foi atendida, mas o
resultado foi o contrário do que pediu. O que pedia Raquel não era apenas filho, mas filhos; e assim lhe concedeu Deus, porque a fez mãe de José e Benjamim.
Mas, dando à luz o segundo filho, morreu de parto. Exatamente no parto do segundo filho.
Vejamos os termos com que
Raquel pedia os filhos: “Dá-me filhos, senão eu morrerei”. E quando cuidava que
havia de morrer se não tivesse filhos, porque teve filhos, no mesmo ponto em
que os teve, morreu. Cuidava que pedia a vida, e pedia a morte; cuidava que
pedia a alegria sua e de sua casa, e pedia o luto e a orfandade dela. Tão certo
é que no que pedimos com maiores ânsias, não sabemos o que pedimos.
2. SANSÃO E O FILHO PRÓDIGO
Sabida é a história de Sansão,
e sabida a do Pródigo; ambos famosos por seus excessos. Deixados, pois os
princípios e progressos de uma e outra tragédia, ponhamo-nos ao fim de ambas,
e vejamos o estado de extrema miséria, a que os passos de cada um os levaram
por tão diversos caminhos.
Vejam aquele homem robusto e
agigantado, com aspecto ferozmente triste, tosquiados os cabelos, cavados
os olhos, e correndo sangue, atado dentro de um cárcere a duas fortes cadeias.
Pois aquele é Sansão.
Vejam aquele jovem macilento e
pensativo, roto e quase despido, com uma corneta pendente no ombro,
arrimado sobre um cajado, vivendo na pocilga e com fome. Pois aquele é o
Pródigo.
Que mudanças! Um era tão
valente e outro tão altivo. Agora o Pródigo com fome não tem autorização para
comer as bolotas dos porcos e Sansão, o imbatível, é jogado em público para
chacota do povo, foi escarnecido e afrontado até a morte. Mas qual a causa
dessas mudanças tão estranhas? Essas mudanças aterradoras não tiveram outra
causa senão a resposta positiva que ambos tizeram.
Sansão pediu a seus pais que
lhe dessem por mulher uma filistéia. Concederam-lhe os pais o que pediu; e esta
filistéia foi a causa das guerras que Sansão teve com os filisteus, e dos
enganos e traições de Dalila, e da sua prisão, e do seu cativeiro, e da sua
cegueira, e das suas afrontas e por fim da sua própria morte.
O Pródigo pediu a seu pai que
lhe desse em vida a herança que lhe havia de caber por sua morte. Concedeu-lhe
o Pai o que pedira: e esta herança consumida em larguezas e vícios da
mocidade, foi a causa da sua pobreza, da sua vileza, da sua miséria, da sua
fome, da sua servidão, da sua desonra, que só tiveram de desconto o pesar e o
arrependimento.
3. APLICAÇÃO
Pediria Raquel filhos se
soubesse que o ter filhos lhe haveria de custar a vida?
Pediria Sansão a filistéia, se
soubesse que ela havia de ser a causa de sua afronta, de sua morte e de perder
os olhos com que a vira?
Pediria o Pródigo a herança
antecipada, se soubesse que com ela havia de comprar a miséria, a fome, a
servidão e desonra?
Claro está que não. Pois se
agora não haviam de pedir nada do que pediram, senão antes o contrário, porque
o pediram então? Vocês já sabem a resposta: Pediram porque não sabiam o que
pediram. Isso deve nos ensinar a aceitar o NÃO de Deus com gratidão. Ele conhece
o futuro e sabe o que é melhor para nós. Ele nos atende não segundo a nossa
vontade, mas segundo a Sua perfeita vontade.
III. OS QUE SE SUBMETEM
À VONTADE DE DEUS
Jesus ensina no Sermão do
Monte: “Pedi e dar-se-vos-á”. E para maior confirmação desta promessa
acrescenta: “Pois todo o que pede, recebe” (Lc 11:9-13). Não diz Jesus que todo
o que pede recebe o que pede. Diz Jesus que todo o que pede recebe. Muitas
vezes, porém, recebe o contrário do que pede.
Jesus confirma seu ensino com
três exemplos familiares: “Qual dentre vós é o pai que, se o filho lhe pedir
pão, lhe dará uma pedra? Ou se pedir um peixe, lhe dará em lugar de peixe uma
cobra? Ou, se lhe pedir um ovo lhe dará um escorpião?” Pois esta é a razão
porque Deus, que nos trata como filhos, nos diz muitas vezes um NÃO e nos nega
o que pedimos; porque pedimos pedras, porque pedimos serpentes, porque pedimos
escorpiões.
Cuidamos que pedimos sustento e
pedimos veneno; cuidamos que pedimos o que havemos de comer e pedimos o que nos
há de comer; cuidamos que pedimos com que viver, e pedimos o que nos há de
matar – e isto é pedir serpentes e escorpiões.
Quando somos tão néscios que
não distinguimos o escorpião do ovo, nem a serpente do peixe, nem o pão da
pedra, Deus que é Pai e tão bom Pai, nos nega peremptoriamente o que tão
perigosamente pedimos.
CONCLUSÃO
O apóstolo Paulo diz que Deus
nos assiste em nossa fraqueza porque não sabemos orar como convém. Não sabemos
orar porque não conhecemos o futuro nem sabemos o que é melhor para nós. Como
filhos de Deus, precisamos aprender dois princípios básicos ensinados por
Tiago:
1. Devemos sempre orar a Deus e
pedir a ele o que necessitamos – Diz Tiago: “Nada tendes, porque nada pedis”.
Jesus ensinou: “Pedi e dar-se-vos-á”. A falta de oração retém as bênçãos do
céu. Podemos ser ousados para pedir, pois Deus é poderoso para fazer
infinitamente mais do que tudo quanto pedimos ou pensamos, conforme o seu poder
que opera em nós.
2. Devemos sempre nos alegrar
quando Deus responde NÃO às nossas orações. Deus é soberano. Ele está no
controle do universo e das nossas vidas. Ele trabalha todas as coisas para o
nosso bem. Ele age no seu tempo e de acordo com a sua vontade. Ele sempre tem o
melhor para nós. Ainda que ele nos leve para o deserto, ou pelos vales, ou
pelas ondas, ou pelos rios, ou até mesmo pelo fogo. Ele tem um propósito em
mente: nos transformar à imagem de Jesus. Acolhamos o NÃO DE DEUS com
humildade!
Autor: Rev. Hernandes Dias Lopes
Extraído
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