"Procura apresentar-te a Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade" (II Tm.2.15).
Se perguntarmos, diante de uma congregação, quantos são servos de Deus, é provável que todos levantarão as mãos. Entretanto, se mudarmos a pergunta, indagando quantos são obreiros, apenas alguns se manifestarão.
Como pode haver servos que não são obreiros? Seriam os "aposentados do reino de Deus"? Sabemos que tal distorção é fruto do costume, ou seja, são chamados "obreiros" aqueles que trabalham na igreja local, possuindo cargos como auxiliares do pastor.
Mas, se somos servos, somos também obreiros, pois estamos envolvidos na obra de Deus. Estamos na igreja, não apenas para recebermos bênçãos, mas para a realização de algum tipo de trabalho, conforme a capacidade e o dom recebido.
O cristão que não for um obreiro é como um membro do corpo sem função, um servo que não serve. Trata-se de uma anomalia.
É uma questão de conscientização. Não podemos pensar que o povo de Deus seja dividido em dois grupos: um que trabalha e outro que assiste. É verdade que alguns têm uma missão diferenciada, com maior responsabilidade, cargo de liderança, etc, mas não deveria haver "inativos espirituais" na igreja.
Cada cristão precisa fazer algo na obra de Deus, seja limpar o chão, pregar a palavra, aconselhar, fazer visitas, interceder, servir a ceia do Senhor, tocar um instrumento, orar pelos enfermos, receber os visitantes, profetizar, evangelizar, lecionar, administrar, etc.. Trabalho não falta.
Muitos dirão que não têm tempo para trabalharem na igreja. Entretanto, mesmo fora do contexto eclesiástico, continuamos sendo servos de Deus onde estivermos, e ali precisamos fazer algo pela causa do evangelho.
Servos – este é o nosso título, sem prejuízo de outras posições que o Senhor nos concede. Ser um obreiro na casa de Deus é grande honra e maior responsabilidade. Considerar-se um servo deve inspirar em nós uma atitude de humildade, de modo que nos coloquemos em prontidão para obedecer, não fazendo da glória humana ou da riqueza material o motivo e propósito do nosso serviço.
No versículo mencionado, o apóstolo Paulo refere-se à responsabilidade humana na preparação para fazer a obra: "Procura apresentar-te". A parte de Deus tem sido feita. Ele já nos escolheu, chamou e deu dons. Agora, o obreiro deve fazer sua parte com a ajuda do Senhor. Não é algo que possamos resolver apenas com oração. Não podemos assentar e esperar que Deus faça o que é da nossa responsabilidade. Não é correto pensar que a presença do Espírito Santo dispense o esforço humano em todos os aspectos da vida cristã e do ministério.
Uma palavra apropriada para resumir o texto de II Tm.2.15 é "qualidade". Em primeiro lugar, o obreiro precisa ter "qualidade de vida", não tendo "de que se envergonhar". A "qualidade de vida" ensinada pela bíblia é, sobretudo, expressa pela palavra "santificação". Muitos estão preocupados com dinheiro, tempo livre, lazer, conforto, etc. Tudo isso é bom (e pode se tornar mau), mas não demonstra com precisão a qualidade de vida que se espera do obreiro.
Em segundo lugar, o obreiro precisa ter boa "qualidade de conhecimento" ao manejar bem a palavra da verdade. Precisamos ler a bíblia e estudá-la em profundidade. Costumamos usar o verbo "manejar" em referência às armas. A palavra é uma arma. Se não soubermos manuseá-la poderemos nos ferir com ela, bem como destruir outras vidas.
Muitos estão trabalhando na igreja, mas não têm uma vida que agrada ao Senhor nem conhecem a Palavra. Que tipo de serviço estão prestando? Podem até ter boa vontade, mas não atendem aos requisitos ensinados por Paulo. Não basta sair fazendo qualquer coisa de qualquer maneira. Não é suficiente que nos entreguemos ao ativismo mecânico. Não basta trabalhar na construção da arca. É preciso entrar nela.
Precisamos atentar para o que o Senhor nos ensina a fim de sermos servos melhores e não obreiros fraudulentos (IICo.11.13) que praticam "obras mortas" na casa do Senhor (Heb.6.1; 9.14), fazendo o que ele não mandou e até o que ele proibiu. Muitas vezes, isto ocorre pela ignorância injustificada daqueles que têm uma bíblia, mas não a conhecem.
Os servos que se esforçam por crescer na qualidade de vida e de conhecimento da verdade terão como resultado a boa qualidade da obra realizada.
O texto fala que o obreiro precisa ser aprovado. Isto significa que ele será examinado. É preciso que cada um examine a si mesmo (ICo.11.28), mas, finalmente, seremos avaliados pelo Senhor. Nossa obra também será provada (ICo.3.13). Então, cada um receberá o galardão conforme as suas obras (Mt.16.27).
Não queremos ser reprovados (ICo.9.27). Portanto, precisamos ser zelosos, de modo que possamos ouvir, no último dia, a voz do Pai a nos dizer: "Bem está, servo bom e fiel. No pouco foste fiel, sobre muito te colocarei. Entra no gozo do teu Senhor" (Mt.25.21).
Anísio Renato de Andrade
Bacharel em Teologia
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