No ano de 2006 o Brasil sofreu um baque. O acidente com o vôo 1907
da GOL chocou o país. Acidentes assim sempre mexem com a gente. A espera
ansiosa por um vôo que nunca chegaria... Noivas esperando noivos... Pais
esperando filhos... Filhos esperando pais... no fim de tudo, a dor... da
ausência... da ausência perene...
Em toda aquela história, durante todos os dias li os jornais em
busca de novas notícias, sofrendo de longe como todo brasileiro, porém
uma dor ínfima perto daqueles que viram sua espera desembocar numa selva
de desesperança... nenhum sobrevivente naquele que se tornou o maior
acidente aéreo da história da aviação brasileira.
Duas entrevistas, porém, me chamaram a atenção.
A primeira delas, falava de dois rapazes, filhos de um pastor
evangélico que estava a bordo do fatídico vôo. Logo no início das buscas
eles declararam que estavam esperando a volta do pai... vivo... “nós
sabemos que ele vai voltar, pois nós acreditamos em milagres.”
A segunda entrevista era o
relato de uma jornalista do “O Globo” que perdeu o seu pai no terrível
acidente. Não me consta ser evangélica, mas seu relato foi contundente:
“Nos últimos dias, a família toda ficou contando com um milagre. Que
ainda não veio. Tento pensar que o maior milagre foi sua vida: tão
intensa, tão cheia de histórias, de dedicação a todos...” Este último
relato mexeu comigo.
Lembro-me agora de uma frase de Albert Einstein, um dos grandes
gênios da humanidade: "Existem apenas duas maneiras de ver a vida.
Uma é pensar que não existem milagres e a outra é que tudo é um
milagre."
O relato dos rapazes me deixou preocupado. Parece-me que surge de
uma obrigação de Deus em atender os desejos da nossa fé. “Ele VAI
voltar... POIS nós acreditamos...” Sei que numa hora dessas a fé deve
estar presente, mas como possibilidade, não como obrigação. Mas nesse
caso a volta do pai não está sujeita à soberania de Deus, está sujeita à
fé dos filhos. É a famosa “fé na fé”... não cremos que algo acontecerá se
essa for a vontade soberana de Deus, mas cremos que acontecerá
simplesmente PORQUE temos fé. O resto é “obrigação” de Deus.
É bom deixar claro que eu também creio em milagres, vi muitos
deles acontecerem. Conheço gente que foi desenganada pelos médicos e que
até hoje está por aí, mais viva do que muitos “vivos”... conheço pessoalmente
verdadeiros “milagres ambulantes”, o que me faz cada vez mais ficar
maravilhado diante de um Deus que pode TUDO, mas que não é OBRIGADO a
NADA!
Essa idéia evangélica, que alguns amigos queridos chamam de
“evangel-wicca”, realmente tem muito mais de bruxaria e misticismo do que
de fé bíblica. Deus agora está sujeito à fé de seus servos, numa incrível
inversão de valores e de posição: o Senhor é quem está à mercê dos mandos
e desmandos daqueles que lhe devem submissão. E assim caminhamos... cada
vez mais nos afastando da soberania de Deus e de sua graça, que nos
permite a incrível visão de que, como disse Einstein e a jornalista
“pagã” (no sentido pejorativo-julgador com que nos referimos aos de
“fora”), todas as coisas são o milagre. O simples milagre da vida!
Mas não há como fecharmos os olhos e sabermos que há diferença
entre o milagre da vida e os milagres, intervenções diretas de Deus em
situações totalmente alheias à capacidade humana. Sei que quando falamos
de milagre, é disso que estamos falando, daquela coisa inesperada, contra
todas as expectativas humanas, contra a própria esperança, o agir
sobrenatural de Deus, seja curando, livrando, salvando, mas de alguma
coisa interferindo no curso natural das coisas. No caso do acidente, o
milagre seria sobreviver a um acontecimento tão funesto.
Mas nem sempre esse milagre chega!Deus não tem obrigação nenhuma
de fazer com que o meu milagre chegue, seja hoje ou amanhã. Ele é
soberano! É Ele quem está no trono, e não eu. Eu posso pedir por um
milagre... sim! Mas nunca, nunca mesmo, determinar se ele vai chegar ou
não... se não, simplesmente não seria um milagre.
Há três opções diante de tragédias como essa. Alienar-se e dizer
que “hoje o meu milagre VAI chegar”, crer que o milagre PODE acontecer,
mas estar sujeito à soberania de Deus, ou declarar como Jó: “O SENHOR o
deu, o SENHOR o tomou; bendito seja o nome do SENHOR!”
Ficar com as duas últimas alternativas é um milagre! A moça “não
crente” aprendeu isso! Aprendamos
com ela.
Extraído do site crerepensar.com.br
Autor - José Barbosa Junior - editor do site
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