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domingo, 3 de julho de 2011

HOJE O MEU MILAGRE NÃO CHEGOU


No ano de 2006 o Brasil sofreu um baque. O acidente com o vôo 1907 da GOL chocou o país. Acidentes assim sempre mexem com a gente. A espera ansiosa por um vôo que nunca chegaria... Noivas esperando noivos... Pais esperando filhos... Filhos esperando pais... no fim de tudo, a dor... da ausência... da ausência perene...
Em toda aquela história, durante todos os dias li os jornais em busca de novas notícias, sofrendo de longe como todo brasileiro, porém uma dor ínfima perto daqueles que viram sua espera desembocar numa selva de desesperança... nenhum sobrevivente naquele que se tornou o maior acidente aéreo da história da aviação brasileira.
Duas entrevistas, porém, me chamaram a atenção.
A primeira delas, falava de dois rapazes, filhos de um pastor evangélico que estava a bordo do fatídico vôo. Logo no início das buscas eles declararam que estavam esperando a volta do pai... vivo... “nós sabemos que ele vai voltar, pois nós acreditamos em milagres.”
A segunda entrevista  era o relato de uma jornalista do “O Globo” que perdeu o seu pai no terrível acidente. Não me consta ser evangélica, mas seu relato foi contundente: “Nos últimos dias, a família toda ficou contando com um milagre. Que ainda não veio. Tento pensar que o maior milagre foi sua vida: tão intensa, tão cheia de histórias, de dedicação a todos...” Este último relato mexeu comigo.
Lembro-me agora de uma frase de Albert Einstein, um dos grandes gênios da humanidade: "Existem apenas duas maneiras de ver a vida. Uma é pensar que não existem milagres e a outra é que tudo é um milagre."
O relato dos rapazes me deixou preocupado. Parece-me que surge de uma obrigação de Deus em atender os desejos da nossa fé. “Ele VAI voltar... POIS nós acreditamos...” Sei que numa hora dessas a fé deve estar presente, mas como possibilidade, não como obrigação. Mas nesse caso a volta do pai não está sujeita à soberania de Deus, está sujeita à fé dos filhos. É a famosa “fé na fé”... não cremos que algo acontecerá se essa for a vontade soberana de Deus, mas cremos que acontecerá simplesmente PORQUE temos fé. O resto é “obrigação” de Deus.
É bom deixar claro que eu também creio em milagres, vi muitos deles acontecerem. Conheço gente que foi desenganada pelos médicos e que até hoje está por aí, mais viva do que muitos “vivos”... conheço pessoalmente verdadeiros “milagres ambulantes”, o que me faz cada vez mais ficar maravilhado diante de um Deus que pode TUDO, mas que não é OBRIGADO a NADA!
Essa idéia evangélica, que alguns amigos queridos chamam de “evangel-wicca”, realmente tem muito mais de bruxaria e misticismo do que de fé bíblica. Deus agora está sujeito à fé de seus servos, numa incrível inversão de valores e de posição: o Senhor é quem está à mercê dos mandos e desmandos daqueles que lhe devem submissão. E assim caminhamos... cada vez mais nos afastando da soberania de Deus e de sua graça, que nos permite a incrível visão de que, como disse Einstein e a jornalista “pagã” (no sentido pejorativo-julgador com que nos referimos aos de “fora”), todas as coisas são o milagre. O simples milagre da vida!
Mas não há como fecharmos os olhos e sabermos que há diferença entre o milagre da vida e os milagres, intervenções diretas de Deus em situações totalmente alheias à capacidade humana. Sei que quando falamos de milagre, é disso que estamos falando, daquela coisa inesperada, contra todas as expectativas humanas, contra a própria esperança, o agir sobrenatural de Deus, seja curando, livrando, salvando, mas de alguma coisa interferindo no curso natural das coisas. No caso do acidente, o milagre seria sobreviver a um acontecimento tão funesto.
Mas nem sempre esse milagre chega!Deus não tem obrigação nenhuma de fazer com que o meu milagre chegue, seja hoje ou amanhã. Ele é soberano! É Ele quem está no trono, e não eu. Eu posso pedir por um milagre... sim! Mas nunca, nunca mesmo, determinar se ele vai chegar ou não... se não, simplesmente não seria um milagre.
Há três opções diante de tragédias como essa. Alienar-se e dizer que “hoje o meu milagre VAI chegar”, crer que o milagre PODE acontecer, mas estar sujeito à soberania de Deus, ou declarar como Jó: “O SENHOR o deu, o SENHOR o tomou; bendito seja o nome do SENHOR!”
Ficar com as duas últimas alternativas é um milagre! A moça “não crente” aprendeu  isso! Aprendamos com ela.

Extraído do site crerepensar.com.br
Autor - José Barbosa Junior - editor do site
 

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