Dificilmente, nesses últimos dias, alguém pode dizer que não
tomou contato com a comemoração da Páscoa ou com algum assunto ou fato
relacionado com essa celebração.
Do chamado feriadão da Páscoa aos populares ovos de
chocolate encontrados em cada esquina ou porta de comércio, dos presentes, que
o comércio procura incentivar as trocas e das celebrações litúrgicas da Paixão
e Ressurreição de Cristo, tudo nessa época parece estar ligado à Páscoa.
Porém, poucos sabem ou se lembram do verdadeiro significado e
origem desta celebração; se a festa é genuinamente cristã ou apenas
recepcionada pela cristandade, havendo quem não faça sequer referência
religiosa a esta tão célebre festividade.
A celebração da Páscoa tem sua origem no povo judeu antigo,
quando para marcar um dos acontecimentos mais significativos de sua existência,
instituiu-se um ritual cuja finalidade era trazer à memória deste povo este
importante evento de sua história, há aproximadamente 1230 anos a.C.
Originalmente, a festa da Páscoa era tratada como uma
celebração individual, porém, com o passar do tempo passou a ser observada em
combinação com a Festa dos Pães Asmos, dada a coincidência das datas de
comemoração e significados, ambos relacionados a partida do povo judeu para do
Egito.
Deixando, portanto, de lado os ovos de chocolate, os
presentes, o comércio e tantas outras tradições estranhas à verdadeira Páscoa,
busquemos na Bíblia aspectos fundamentais que nos forneçam informações seguras
sobre a origem, a prática, o sentido e as implicações desta celebração para a
cristandade.
Tanto a Páscoa quanto a Festa dos Pães Asmos segundo a
narrativa bíblica, foram concebidos por Deus. Em Êxodo 12, vemos que não houve
qualquer participação humana na instituição do rito.
A Páscoa é, portanto, projeto de Deus.
Segundo Êxodo 12 e 13
e Deuteronômio 13 e 16, vemos claramente, que a Páscoa está ligada aos atos
libertadores de Deus em relação ao povo de Israel então em cativeiro no Egito.
Três idéias podem ser destacadas sobre o sentido verdadeiro e original da
Páscoa:
Libertação do povo de Deus (Israel) do cativeiro de 430 anos
em terras do Egito (Ex. 12:40-42; 23:15 e Deut. 116:1).
Libertação do povo da aflição sofrida no Egito (Deut.
16:1-3).
Libertação do povo de Deus da ação do Anjo Destruidor que
matou a todos os primogênitos do Egito (Ex. 12:27).
Todos os israelitas estavam obrigados a participação dos
rituais da Páscoa e dos Pães Asmos sob pena de morte, excluídos da prática os
estrangeiros e assalariados não circuncidados. A prática deveria ser observada
anualmente.
Combinada com celebração dos Pães Asmos, o ritual era
realizado anualmente no 1º mês – (Abibe/Nisan) a partir do dia 14, que
coincidia com a primeira lua cheia da primavera e durava até o dia 21 do mesmo
mês.
Cronologia da Páscoa judaica:
Dia 10 – Compra/separação do Cordeiro Pascal
Dia 14 – À tarde – imolação do Cordeiro.
Dia 15 – Nas primeiras horas, início do banquete familiar
quando era servido o Cordeiro, os pães asmos e as ervas amargas. (Era a Reunião
religiosa inicial).
Dias 15/21 – Festa dos Pães Asmos, marcada pela abstinência
de fermento, consumo de Pães Asmos e sacrifícios em todos os dias.
Dia 21 – Reunião religiosa final.
Os Ingredientes da Páscoa
O Cordeiro (bode ou cabrito) macho/de um ano/sem defeito, separado
4 dias antes. devia ser servido assado – não cru ou cozido – nenhum osso
poderia ser quebrado.
O sangue do cordeiro deveria ser usado para marcar vergas e
umbrais das portas de cada casa.
A porção servida deveria ser de um cordeiro para cada
família ou grupo de família (10 a 20 pessoas).
O cordeiro deveria ser totalmente comido até a manhã
seguinte. Eventual sobra deveria ser
queimada no fogo, não podendo ser levada para fora da casa. Não se podia sair
de casa a noite.
As ervas amargas simbolizavam os sofrimentos e dificuldade
do povo no cativeiro.
Os pães asmos ou ázimos, pão sem fermento, chamado de “pão
da miséria e da aflição” não podia ser consumido nem possuído fermento nas
casas, do dia 14 até o dia 21, sob pena de morte.
Lembrava que na noite da saída do Egito não houve tempo para
levedar as massas para os pães, pois o povo saiu “às pressas”.
A Páscoa e o Cristianismo
A Páscoa, instituída por Deus para fazer memória dos seus
atos salvíficos na história do povo de Israel, no início foi uma festa
familiar, presidida pelo pai de família, porém com o passar do tempo tornou-se
uma celebração litúrgica oficial realizada exclusivamente no templo em
Jerusalém e afinal, com o advento do cristianismo foi incorporada pela
cristandade como uma celebração que aponta e memoriza a ação libertadora de
Cristo para o seu Novo Israel, a Igreja de Cristo – ação libertadora da morte e
do pecado, assumindo cada ingrediente tradicional do rito um sentido próprio e
atualizado.
Os pães asmos e as ervas amargas – lembra-nos que éramos
escravos do mundo e do senhor do mundo – éramos alienados e estrangeiros, mas
Deus liberta definitivamente de nossas aflições e sofrimento.
O Cordeiro Pascal – Jesus Cristo é identificado como o
cordeiro pascal, cujo sangue derramado livra-nos da morte e abre-nos caminho,
para a saída definitiva, da terra da servidão para a liberdade (Jo. 1:29; I
Cor. 5:7 e I Pedro 1:19)
Conclusão
A Páscoa antiga marcou a libertação do povo de Deus do Velho
Testamento, de sua aflição e escravidão no Egito, da mesma forma que a
celebração atual marca as ações libertadoras de Deus – através de Seu Filho,
Jesus, com sua Paixão, Morte e Ressurreição – livrando-nos do sofrimento, da
escravidão e da morte.
Rev. Luiz Pereira de Souza
Igreja Presbiteriana Independente de Vila Carrão
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