"Certo homem tinha uma figueira plantada na sua vinha;
e indo procurar fruto nela, não o achou. Disse então ao viticultor: Eis que há
três anos venho procurar fruto nesta figueira, e não o acho; corta-a; para que
ocupa ela ainda a terra inutilmente? Respondeu-lhe ele: Senhor, deixa-a este
ano ainda, até que eu cave em derredor, e lhe deite estrume; e se no futuro der
fruto, bem; mas, se não, corta-la-ás" (Lc.13.6-9).
Esta parábola começa com algo estranho: "uma figueira
no meio da vinha". Vinha é uma plantação de videiras. Por quê haveria ali
uma figueira? Por uma concessão e propósito do proprietário.
Neste texto, como em outras passagens bíblicas, o ser humano
é comparado a uma árvore.
O dono da vinha é Deus, o Pai. Se estamos no meio da vinha
do Senhor, é apenas por sua graça e amor. Não temos a natureza e a qualidade
correspondentes à santidade divina, mas vivemos pela misericórdia. Nunca
deveríamos fazer exigências diante de Deus com base em direitos ou méritos.
Reconheçamos a graça e sejamos gratos.
Todo cultivo representa investimento e tem um propósito.
Nesse caso, o objetivo era a frutificação. O Senhor tem expectativas ao nosso
respeito. Ele fez grande investimento em nossas vidas e o maior deles foi o
sangue precioso derramado no Calvário. Além disso, ele nos deu o seu Santo
Espírito e dons e ministérios.
Os frutos são resultados esperados. O problema é que a
expectativa de Deus é, geralmente, diferente da nossa, assim como pais e filhos
têm, quase sempre, diferentes desejos e planos. Os pais se preocupam com a
saúde, o caráter, a formação educacional e profissional do filho, mas ele,
sendo uma criança, talvez queira apenas um brinquedo novo. O que temos
desejado, planejado e realizado? Quais têm sido nossas prioridades?
O texto fala sobre um tempo de avaliação. Quando chegamos ao
final de cada ano, fazemos avaliações. Aqueles a quem Jesus se dirigia tinham a
tendência de avaliar os outros (Lc.13.1-5), mas precisamos fazer o auto-exame
(ICo.11.28). Quando o fazemos, é possível que nos gloriemos de muitos
resultados que talvez não sejam os que Deus deseja.
Uma figueira pode ser alta, forte, bonita, com folhagem
exuberante e até flores, mas, se não tiver fruto, não estará cumprindo sua
missão. Todas essas características são boas, porém insuficientes. O bom não
substitui o melhor. Afinal de contas, para quê servimos nós? Para produzirmos
sombra? Somos enfeites? Nossa madeira terá alguma utilidade? Nossas folhas
servirão como vestimentas? (Gn.3.7). O que o Senhor procura em nós é o fruto.
Muitos objetos podem produzir sombra, mas a figueira existe para produzir figos.
Podemos ter alcançado tantas coisas nesta vida: dinheiro,
bens, posições, cargos, títulos e, ainda assim, não termos produzido fruto.
Quando Jesus voltar, muitos apresentarão um relatório diante
dele, dizendo: Senhor, em teu nome nós profetizamos, expulsamos demônios,
fizemos sinais e maravilhas. Então, ele lhes dirá: Apartai-vos de mim, vós que
praticais a iniquidade (Mt.7).
Desta passagem bíblica, entendemos que o exercício dos dons
espirituais não é fruto diante de Deus. Tanto é assim que, nos escritos de
Paulo, os dons (ICo.12) estão separados do fruto do Espírito (Gal.5.22).
Podemos trabalhar muito e não produzir o que Deus espera de nós, assim como
Marta trabalhava, mas não agradava ao Mestre (Lc.10.40).
O que seria então o fruto? O antônimo da iniquidade. Não é
apenas evitar o pecado, mas fazer algo positivo em seu lugar. "Cessai de
fazer o mal e aprendei a fazer o bem..." (Is.1.16-17). O fruto do Espírito
é o contrário das obras da carne (Gal.5.16-22). Podemos resumi-lo em duas palavras:
santificação e amor. A santificação combate o pecado. O amor não nos deixa
inativos, mas nos faz produzir.
Outra forma de definir o fruto é "aquilo que fazemos de
bom por outras pessoas". O que eu fizer por mim mesmo não vale como fruto.
Nenhuma árvore produz fruto para si mesma. Podemos comer e beber do melhor
todos os dias, mas nada disso supera o valor de um copo d'água dado ao sedento
(Mt.10.42).
Naquela parábola, o dono da vinha veio procurar o fruto e,
não o achando, ficou decepcionado. A figueira é um símbolo de Israel e
representava diretamente aqueles judeus aos quais Jesus contou a parábola. Em
última instância, ela nos representa também, pois Deus tem a mesma expectativa
a nosso respeito.
Não tendo achado o fruto almejado, o Senhor mandou cortar a figueira.
Temos neste ponto a manifestação da justiça divina. Em seguida, ocorre a
intercessão. O viticultor parece representar o Senhor Jesus, que é nosso
advogado diante do Pai (IJo.2.1). Personificando o amor divino, ele clama:
"Senhor, deixa-a mais este ano". Então, a execução judicial foi
adiada.
Cada dia das nossas vidas é uma nova oportunidade. Se
estamos ainda nesta terra, é porque não fomos cortados. Ainda podemos
frutificar.
O viticultor se prontificou a cuidar da figueira, cavando em
volta e adubando. O Senhor ainda se propõe a investir mais em nós. O processo
pode ser difícil. Cavar em volta pode ser um procedimento incômodo que vêm
romper com a dureza do solo e expor o que está oculto. O adubo pode não ser
agradável, mas é necessário. Precisamos aprender com as coisas ruins que nos
sobrevêm.
Que Deus nos ajude a reconhecer tais processos em nossas
vidas, de tal maneira que não venhamos a rejeitar a divina intervenção.
A figueira ganhou tempo, mas uma nova avaliação já está
marcada. O juízo final se aproxima. Precisamos frutificar enquanto Deus nos
permite.
Jesus disse àqueles homens: "Se não vos arrependerdes,
todos de igual modo perecereis" (Lc.13.5). O arrependimento é o primeiro
fruto que o Senhor procura. Este foi o tema da pregação de João Batista e
também do Senhor Jesus ao iniciar o seu ministério.
Arrependimento é conscientização, desejo, decisão e mudança.
Que Deus nos ajude para que possamos produzir os frutos que ele procura em nós.
Autor: Pr.Anísio Renato de Andrade
www.anisiorenato.com
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