Prof. Anísio Renato de Andrade
A igreja primitiva surgiu em meio ao domínio do Império Romano. Por toda parte viam-se legiões do imperador, principalmente nas províncias insurgentes. Assim, quando Paulo escreveu a respeito da armadura de Deus (Ef.6.10-18), ele tinha em mente as vestimentas dos soldados romanos. O apóstolo estava preso em Roma, tendo consigo a companhia constante de um soldado. Seus leitores, da mesma forma, estavam habituados com a presença militar e conheciam bem suas roupas, equipamentos e armas.
Em algumas de suas epístolas, Paulo se refere aos cristãos como soldados de Cristo. Ele vê, inclusive a si próprio, como um guerreiro de Deus. Seu ministério é comparado a uma milícia. Sua vida é um árduo combate (ICo.9.26; Fp.1.30; I Tss.2.2; II Tm.2.3-4; 4.7).
Esta visão é bem diferente daquela anunciada por alguns pregadores, que convidam seus ouvintes para uma vida cristã isenta de sofrimentos e privações. Quem segue a Cristo deve estar disposto a lutar contra as forças espirituais do mal; e essa luta não é algo suave ou indolor.
Sabemos que o nosso inimigo não é o irmão que está ao lado; não é o nosso parente, vizinho ou colega de trabalho. O inimigo a ser combatido é Satanás, juntamente com seus demônios (I Pd.5.8; Ef.6.12).
Quais são as nossas armas e equipamentos? O apóstolo escreveu: “Estai, pois, firmes, tendo cingidos os vossos lombos com a verdade, e vestida a couraça da justiça, e calçando os pés com a preparação do evangelho da paz; tomando, sobretudo, o escudo da fé, com o qual podereis apagar todos os dardos inflamados do Maligno. Tomai também o capacete da salvação, e a espada do Espírito, que é a palavra de Deus; com toda a oração e súplica, orando em todo tempo no Espírito e, para o mesmo fim, vigiando com toda a perseverança e súplica, por todos os santos” (Ef.6.14-17).
Algumas pessoas imaginam que a “armadura de Deus” seja um conjunto de apetrechos místicos, ou “objetos espirituais” à nossa disposição. Alguns chegam a fazer orações pedindo ao Senhor que lhes entregue tais equipamentos invisíveis. Outros fazem gestos de “apropriação”, como se estivessem vestindo sua armadura. Há quem chegue ao extremo de produzir espadas de plástico para distribuição nos cultos. Sabemos que nada disso faz o menor sentido.
Paulo estava simplesmente usando linguagem figurada. Ele estava mostrando que, da mesma forma como o soldado usa roupa especial, couraça, sapatos, escudo, espada e capacete, nós devemos trazer sempre conosco a verdade, a justiça, o evangelho, a fé, a salvação e a palavra de Deus, acrescentando a isso a oração, a vigilância e a perseverança.
Como podemos nos vestir com a verdade? Falando e vivendo a verdade (Ef.4.22-25). Desse modo, ela funciona como a roupa do soldado: nos protegendo. Quem poderá nos acusar legitimamente? Sendo verdadeiros, sempre estaremos com a razão.
De que adianta, se alguém ora de manhã, pedindo ao Senhor a “armadura”, e passa o dia falando mentiras e cometendo injustiças? Não haverá nenhuma armadura sobre essa pessoa. Ela estará vulnerável aos ataques do mal e, se não for destruída, terá escapado apenas pela misericórdia divina. Não podemos, contudo, supor que sairá ilesa.
De que adianta alguém gesticular como se estivesse empunhando uma espada e, ao mesmo tempo, negligenciar o conhecimento da palavra de Deus? Será vítima do engano de Satanás.
Devemos compreender bem o propósito do apóstolo ao usar a ilustração da armadura. Ele estava falando a respeito de virtudes espirituais que devem fazer parte do nosso caráter e da nossa vida. Assim, estaremos prontos para combater o inimigo. Nossa fraqueza humana estará revestida pelo poder de Deus. Entraremos na batalha e sairemos mais do que vencedores em nome do Senhor Jesus (Rm.8.37).
Anísio Renato de Andrade – Bacharel em Teologia.
Para esclarecimento de dúvidas em relação ao conteúdo, encaminhe mensagem para anisiorenato@ig.com.br
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